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Cenário DeFi no Brasil em 2021 (Em Português)

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O Brasil rumo a descentralização

Não sabe-se ao certo em que lugar, data e hora surgiu o setor de Finanças Descentralizadas. E mesmo que existisse um marco zero, não faria sentido no universo cripto. DeFi não surgiu do nada: é sim uma consequência positiva de anos de desenvolvimento de códigos, principalmente nos smart contracts da Ethereum, pioneiros em disponibilizar sua blockchain para ser utilizada como infraestrutura para criação de aplicativos descentralizados.

Mesmo não tendo conhecimento com exatidão, é fato que as Finanças Descentralizadas detêm mais comunidades ativas em países do exterior. Os principais protocolos DeFi baseiam-se em comunidades no Discord e Telegram letradas majoritariamente em inglês, com, por vezes, chats em português separados para alguns poucos brasileiros que aventuram-se neste universo.

Apesar dessa preponderância linguística do inglês nas comunidades, segundo pesquisa da Chainalyis, o Brasil figura entre o segundo país da América Latina com maior adoção em DeFi e o 17º no mundo. Isso significa que, ainda que a língua portuguesa não seja usual, a população brasileira tem buscado compreender e interagir com o universo das Finanças Descentralizadas.

O surgimento de projetos brasileiros, ainda que pontuais, demonstram o início do desenvolvimento de protocolos nacionais. Mesmo sendo do Brasil ou possuindo brasileiros em suas equipes, a mensuração exata de aplicativos descentralizados nacionais é de dificil mensuração: muitos times de desenvolvedores são anônimos, visando evitar retaliações de órgãos reguladores ou mesmo a manutenção da privacidade e segurança dos mantenedores dos protocolos.

Contudo, já existem projetos brasileiros inovadores em DeFi e trouxe aqui três projetos interessantes:

Pods Finance

A Pods é um protocolo descentralizado de opções, oferecendo aos usuários a possibilidade de fazer hedge de seus criptoativos. O hedge, tem a função de proteger os investidores de volatilidades em seus ativos que causem prejuízos a seus portfólios.

O mercado de opções é figura conhecida no mercado financeiro e utilizado no Brasil. De maneira simples, este é composto por calls - direito de compra de um ativo - e put - direito de venda de um ativo. Ao adquirir uma call, o investidor adquire o direito de comprar o ativo em um momento futuro por um preço pré-estabelecido, protegendo-o de adquiri-lo mais caro. Em contrapartida, quando é comprada uma put, é conquistado o direito de vender o ativo a um preço previamente estabelecido, garantindo que, caso haja uma queda repentina, este não sofrerá prejuízos em seu portfólio.

A Pods desenvolveu uma AMM de opções, permitindo aos usuários comprar calls e puts utilizando a mesma mecânica de DEX como Uniswap e Curve, mas com sua própria solução e liquidez. Para fazer a aquisição das opções, os usuários devem minta-las a partir de depósitos de tokens em seus smart contracts. Assim, a emissão das puts e calls são 100% colaterizadas. Estas, após emitidas, podem ser vendidas ou depositadas em pools de liquidez dentro da própria Pods. A princípio seu uso parece complexo, mas a leitura da documentação esclarece muitas dúvidas sobre as funcionalidades e seu uso.

Apesar de possuir uma interface em inglês, o protocolo detém brasileiros trabalhando no projeto. A CEO e Co-fundadora do dapp, Rafalela Baraldo, **participou de um evento promovido pela Fox Bit, Comissão de Valores Mobiliários entre outros importantes participantes falando sobre o desenvolvimento do setor DeFi no Brasil. Vale assistir.

Bankless BR DAO

A descentralização das mídias é uma disrupção que tem se tornando constante no universo cripto. Dentre essas iniciativas, destaca-se a que tem conseguido não só descentralizar a criação de conteúdo, mas fazer surgir ideias impossíveis de serem concebidas simultaneamente em um ambiente centralizado, gerido por poucas pessoas: a Bankless DAO.
A Bankless é uma newsletter escrita inicialmente por Ryan Sean Adams e David Hoffman e é referência ao redor do mundo pela qualidade do conteúdo produzido sobre Finanças Descentralizadas. A intenção de ambos e de toda a equipe que hoje compõem o Bankless é tornar 1 bilhão de pessoas livres de bancos, ou seja, introduzi-las em DeFi de maneira que não seja mais necessário interagir com instituições financeiras tradicionais.

Para atingir essa missão, em 4 de maio de 2021, divulgou a criação da primeira DAO de mídia do mundo. As DAOs - Organizações Autônomas Descentralizadas - são entidades geridas pelas pessoas que a compõem, através de discussões, votações, participações e iniciativas de seus próprios membros. A priori, todas as decisões tomadas são submetidas aos smart contracts da DAO e, a partir delas, a governança da DAO é realizada pela própria comunidade participante. Além disso, todas as funções, trabalhos e desenvolvimentos são realizados pelos seus integrantes. As decisões quanto a remuneração, projetos, palestras ou problemas legais, são tomadas em conjunto pelos contribuidores da DAO.

Este movimento, desenvolvido pela própria comunidade de assinantes da Bankless HQ, teve larga adesão ao redor do mundo. Projetos simultâneos são elaborados, não só nos Estados Unidos, mas em vários países ao redor do globo. Assim, milhares de pessoas de diferentes continentes contribuem para a missão idealizada por Ryan Adams: tornar as pessoas Bankless.

Com sua expansão, brasileiros viram o potencial do conteúdo do Bankless para auxiliar as pessoas a ingressar no setor de Finanças Descentralizadas. Assim, engajados na tradução de artigos na Bankless DAO, tiveram a ideia de conduzir sua missão em terras nacionais e começaram a construir a Bankless BR DAO, a primeira DAO brasileira.

A princípio, os artigos publicados pela Bankless DAO eram traduzidos para o português e postados periodicamente para inscritos em seu Substack. Contudo, gradualmente, novos integrantes ingressaram e começaram a fomentar novas ideias para crescimento da DAO brasileira e da difusão de conhecimento sobre Finanças Descentralizas.

Enquanto em seu início a Bankless BR DAO detinha o objetivo de trazer o conteúdo em inglês sobre DeFi para a população brasileira, hoje conta com escritores produzindo artigos autorais; elaboração de tutoriais para usuários iniciantes a experientes; produção de NFTs de artistas participantes da DAO ou de outros artistas que tenham interessem em tokenizar suas artes; e outras ideias, e atividades que surgem diariamente no Discord da DAO.

A evolução da Bankless BR DAO deriva justamente da essência das Organização Autônomas Descentralizadas: a ausência de uma entidade centralizadora responsável por impor as tarefas a cada um, permite um nível de inventividade não experimentando por mídias centralizadas. Cada um gera seu valor para comunidade e, quanto maior o valor fornecido, melhor para todos os integrantes da DAO.

Importante ressaltar: todos os integrantes da DAO são remunerados pelos trabalhos exercidos. Este mês houve a integração do Coordinape, uma ferramenta para tornar as remunerações em DAOs mais justas, alinhadas ao quanto os participantes entendem que outros contribuidores devem receber.

Token.com

A produção de conteúdo de qualidade sobre DeFi é uma tarefa essencial para educar as pessoas no seu uso, principalmente na compreensão dos detalhes para interagir com aplicativos descentralizados. No entanto, o desenvolvimento de projetos que interligam o sistema bancário financeiro tradicional fazem-se necessário, visando atrair um público não afeto a tecnologia, mas com habitualidade no uso de aplicativos de bancos tradicionais.

Com essa intenção, surge a Token.com, uma iniciativa da Monolith. Esta foi responsável por trazer o primeiro cartão de débito descentralizado, permitindo aos seus clientes armazenarem seus tokens em uma wallet própria desenvolvida pela Monolith e gastar seu saldo via débito, com cartão VISA. Ou seja, sem abrir mão da custódia de seus tokens, foi dado aos usuários uma interface direta com o mundo das finanças tradicionais, eliminando a necessidade de enviar para uma corretora centralizada de modo a efetuar o saque de seu dinheiro fiat.

Analisando o site da Token.com, vê-se a expansão da oferta destes serviços no Brasil. Os usuários serão capazes de realizar um PIX para uma conta na plataforma da Token.com e, com o saldo em sua conta, ter rendimentos em dólares. A mágica por trás da plataforma é o investimento do saldo dos clientes em aTokens, representação do depósito em pools de liquidez da Aave. Assim, a Token.com conseguirá fornecer aos usuários os rendimentos pagos pelo protocolo de empréstimo aos provedores de liquidez sem a necessidade de interagir diretamente com dapp.

A facilidade na exposição as recompensas pagas por protocolos DeFi a população brasileira - limitada a apenas um PIX, com o projeto da Token.com - fará com que investidores de finanças tradicionais ganhem confiança nos dapps, e atrairá mais brasileiros que não tem habitualidade em investir seu dinheiro, seja pela falta de conhecimento, seja pela barreira tecnológica.

Ressalta-se aqui: há outros projetos brasileiros no setor de Finanças Descentralizadas, como a Liqi Digital Assets, responsável pela tokenização de diversos categorias de ativos, até mesmo recebíveis de clubes de futebol. As iniciativas trazidas nesse texto são apenas exemplos de que, apesar de estar dando seus primeiros passos, já existem muitas pessoas trabalhando diariamente para a expansão de DeFi no Brasil.

Conhece um projeto interessante e não foi trazido aqui? Ou está desenvolvendo algo relacionados a Finanças Descentralizadas? Comente e fale sobre!

Artigo de Guilherme Barbosa, selecionado através do Fluxo de Informação e Globalização da ShapeShift DAO em 12/11/2021.